quarta-feira, 6 de outubro de 2010

PREFIRO...



Sou rio
Me represa no teu peito
Se alegra no meu leito
Mancha meu lençol com seu desejo
Ondula minhas águas com teus beijos.
Me olha no olho, me encara
Diz que me ama e me para
Que eu deixo de ser rio pra me acalmar na sua palma
Reflete em meu espelho a sua alma.
Se enxerga em mim, me habita
Me deixa povoar tua saudade
Me abriga na tua vontade
Me tome aos goles, me sorve
Me mantenha, me comporte
Que o vento já vem, soprando forte, me levar.
E eu quero ficar
Prefiro te amar a ser mar.



Charles F. Miranda


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Desamor



Motel barato

Luz pálida e sem espelhos

Quem quer se enxergar em lençóis rotos pelo atrito de tanta sordidez?

Sinto um cheiro de mofo que poderia jurar que vem de algum lugar em mim

Insetos em volta da lâmpada me distraem

Enquanto tua boca me fela

E me diz indecências que pensa que eu quero ouvir.

Meus dedos te percorrem sem delicadeza

E te conhecem em cada curva e vão

Não porque sejam íntimos, as minhas mãos e o teu corpo,

Mas porque não é diferente de qualquer outra puta que a miséria pariu.

Enquanto faz o seu dispensável jogo de cena

Achando que te paguei pra me agradar com mentiras

Percebo que na verdade o mofo vem de você

Do que deixou guardado esperando dias melhores.

E você se perfuma, se pinta e põe um sorriso na cara

Tentando esconder a desesperança que já se alastrou em metástase.

E se entrega a toda sorte de ridículos homens

Com suas ladainhas carentes e brutos paus duros

Sujeita a tudo o que tua condição lhe obriga e ao que o dinheiro paga.

Te sodomizo, alheio ao teu desconforto e à triste biografia que te fiz na cabeça.

E nem me importo se porventura

Alguma imundície tua sujar meu sexo

Sigo sem melindres para o desfecho do que me trouxe aqui

E esguicho meu prazer sem culpa

Eu não criei a miséria de quem és filha, só me alimento dela.

Seu gozo mal dissimulado me dá vontade de te pedir desconto

Rio dos meus pensamentos enquanto me livro do preservativo

E do pouco de afeição que me forcei a ter por você

Vai pro lixo misturado ao látex e secreções

Você ainda tenta, inutilmente, me iludir com as manhas do metier

Pobre puta que não sabe a hora de sair de cena

Permaneço calado e indiferente a qualquer bobagem que digas

Meu desejo já flácido me impede qualquer fingimento

Só quero um banho pra me limpar desse desamor.




Charles F. Miranda