quarta-feira, 16 de setembro de 2009

S.O.S



Salve-me do impossível
Do tempo, do medo
Salve-me da mobília empoeirada
Do sofá da sala, da televisão ligada
Salve-me da canção triste no rádio
Do silêncio insuportável dessas quatro paredes
Salve-me do dia-a-dia, do nada
Da obrigação de ser feliz
Salve-me do que não posso ter
Do que não devo, do que me atrevo
Salve-me das pessoas que não sabem amar
Salve-me de me tornar uma delas
Salve-me de mim
Da minha memória insistente
Salve-me do que invento pra seguir em frente
Salve-me desse amor
Que me deixa claro e me entrega
Salve-me de você
Do que és e do que me negas
Salve-me das regras, de ter que cumprir metas
Dos dogmas, convenções, dos guetos
De ter que agradar aos Troianos e aos Gregos
Salve-me de Deus e do Diabo
Salve-me do que sinto e do que falo
E do caralho a quatro!!
Não sei como se faz isso
Apenas beije-me, e nada mais tem importância
E ainda que breve, estou salvo...
Só não me salve da ingenuidade de acreditar nisso.


Charles F. Miranda

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Bareback


Vocês já ouviram falar em Bareback? Eu tomei conhecimento do termo há pouco tempo ao ler uma matéria na revista Isto É, e mais uma vez me surpreendi com o ser humano. Infelizmente, nesse caso, de forma negativa. O Bareback (ou montar o cavalo sem sela) é uma prática sexual com muitos adeptos nos Estados Unidos e Europa e que agora começa a chegar ao Brasil, onde os praticantes fazem sexo anal sem camisinha.
Claro que o que me surpreendeu não foi saber que essas pessoas fazem sexo sem proteção... apesar de todas as campanhas a gente sabe que isso acontece muito e quando algo dá errado nem se pode culpar a falta de informação. O que me assusta é a intenção por trás da prática do Bareback (intenção que não há em quem, numa eventualidade ou por achar que o parceiro é 100% confiável, pratica sexo sem segurança). Numa primeira leitura seria apenas uma "busca mais livre do prazer", mas junto disso vem o fato de que os participantes acham excitante o risco de contrair HIV nessa prática e, mais preocupante ainda, alguns desejam contrair o vírus e assim acabarem com a "ansiedade e a angústia frente ao possível contágio pelo HIV uma vez que já se sabem soropositivos, e como tal a utilização do preservativo passaria a ser descartada". Alegam também que "devido aos avanços atuais relacionados ao tratamento anti-HIV (terapia anti-retroviral ... que aliás tem efeitos colaterias bem desgastantes) e ao acesso a ele, em caso de contágio sua qualidade de vida não sofreria qualquer tipo de impacto negativo, já que os medicamentos ao inibirem a reprodução do vírus e potencializar o sistema imunológico, impediriam o surgimento de enfermidades oportunistas". O Bareback se dá em grupos mistos (soropositivos e negativos) onde os participantes não sabem quem tem e quem não tem o vírus numa verdadeira roleta russa. E em grupos só de soropositivos, que acham erroneamente que o sexo entre portadores não poderia piorar a situação (nesse caso há uma reexposição virótica que dificulta muito o tratamento, além de que, o HIV não é de um tipo só por sofrer mutações). É um erro também afirmar que essa prática só aconteça entre homossexuais (embora sejam maioria) ... bissexuais e heterossexuias também se arriscam nesse jogo suicida.
Enfim, tudo isso que falei vocês podem encontrar na net com muito mais informações e até relatos de alguns barebackers. Só queria registrar minha perplexidade diante da ignorância e do descaso do Ser Humano pela própria vida. Tratar a AIDS (fora outras DSTs que se pode pegar nessa "brincadeira") como algo menor e irrelevante em relação ao prazer que buscam é no mínimo um pensamento infeliz. Sei que cada um faz da sua vida o que achar melhor, mas é lamentável saber que alguns usam o livre arbítrio em coisas tão deprimentes. "O meu tesão agora é risco de vida" cantou Cazuza ... triste saber que tem gente achando isso o máximo!

PS: E já que estou falando de desrespeito pela vida, ignorância e exemplos de como a raça humana pode ser nociva ... não poderia deixar de lembrar que hoje faz 8 anos desde os atentados de 11 de Setembro nos EUA. Sabendo que o ser humano é capaz de atentar contra a própria vida, não é de se estranhar que a vida do outro não lhe faça a menor diferença.
 
Charles F. Miranda

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Aliteração



Sem seu sorriso... sou semi
Sílaba separada, sem sentido
Sobras de um sonho, sobejo
Solo sequioso da solidão.
Sombra silente, sem som
Sugado pelo sumidouro da sádica saudade que sinto.
Sou seu suvenir sem serventia
Sou sede que não sacia
Sistema solar sem sincronia.
Situação sobre-humana, singular sentimento
Sinto-me soçobrar em sofrimento
Sem saco, sem simpatia
Sisudo, soturno, sorumbático.
Servo de seus sortilégios e sevícias
Solilóquio de sandices, sarau sarcástico
Sou semita, sois suástico
Sem simetria, sem sintonia
Se eu somasse, subtraías.
Socorro... Saqueaste meus sentidos!
Sandeu, sequer soubeste ser sensível.
Sente-se superior sabendo meus segredos?
Sacanagem sua servir-se de meu sossego.
Sacripanta, sanguessuga, Satanás, serpente
Subestime meu sexo, saboreie salivas suplentes.
Se superestime, sinta-se suficiente
Surpreenda-se ao se saber supérfluo.
Simulei seu sepulcro, saturei subitamente
Sobre sua sórdida soberba salpicarei solvente.
Serei severo, sem sutilezas secarei sua sorte
Sofra, sinta, suplique, suporte.
Sou a sanha no soco que sangra o supercílio
Sem senso, selvagem, símio.
Solto da soga que me sufocava
Sortido de sentimentos e sensações
Semblante sereno de satisfação
Suave, sublime, são.
Sem seu sorriso... sigo!

Charles F. Miranda