Motel barato
Luz pálida e sem espelhos
Quem quer se enxergar em lençóis rotos pelo atrito de tanta sordidez?
Sinto um cheiro de mofo que poderia jurar que vem de algum lugar em mim
Insetos em volta da lâmpada me distraem
Enquanto tua boca me fela
E me diz indecências que pensa que eu quero ouvir.
Meus dedos te percorrem sem delicadeza
E te conhecem em cada curva e vão
Não porque sejam íntimos, as minhas mãos e o teu corpo,
Mas porque não é diferente de qualquer outra puta que a miséria pariu.
Enquanto faz o seu dispensável jogo de cena
Achando que te paguei pra me agradar com mentiras
Percebo que na verdade o mofo vem de você
Do que deixou guardado esperando dias melhores.
E você se perfuma, se pinta e põe um sorriso na cara
Tentando esconder a desesperança que já se alastrou em metástase.
E se entrega a toda sorte de ridículos homens
Com suas ladainhas carentes e brutos paus duros
Sujeita a tudo o que tua condição lhe obriga e ao que o dinheiro paga.
Te sodomizo, alheio ao teu desconforto e à triste biografia que te fiz na cabeça.
E nem me importo se porventura
Alguma imundície tua sujar meu sexo
Sigo sem melindres para o desfecho do que me trouxe aqui
E esguicho meu prazer sem culpa
Eu não criei a miséria de quem és filha, só me alimento dela.
Seu gozo mal dissimulado me dá vontade de te pedir desconto
Rio dos meus pensamentos enquanto me livro do preservativo
E do pouco de afeição que me forcei a ter por você
Vai pro lixo misturado ao látex e secreções
Você ainda tenta, inutilmente, me iludir com as manhas do metier
Pobre puta que não sabe a hora de sair de cena
Permaneço calado e indiferente a qualquer bobagem que digas
Meu desejo já flácido me impede qualquer fingimento
Só quero um banho pra me limpar desse desamor.
Charles F. Miranda